Rumo à canonização de Madre Josefina Vannini
27.09.2019 | 1 minutos de leitura
Província
Se é verdade que existem muitos santos que moravam em Roma, menos são os que nasceram lá. A última mulher de Roma a ser canonizada Francisca Romana (1384- 1440), proclamada santa por Paulo V em 1608.
Agora, no entanto, entre essas raridades, em 13 de Outubro - como anunciado pelo Papa Francisco no consistório da Segunda-Feira 1 de julho 2019 - será adicionado o nome de Josefina Vannini (1859-1911), Fundadora das Filhas de São Camilo.
Judite Adelaide Agata, esse era seu primeiro nome, nasceu em 07 de julho de 1859 na Rua de Propaganda 16, a poucos passos da Praça de Espanha, em frente ao prédio da Congregação para a Evangelização dos Povos, em Roma. Batizada no dia seguinte, na Igreja vizinha de “Santo André”, Judite foi a segunda dos três filhos do casal Angelo Vannini e Annunziata Papi. Logo, porém, os pais morreram e a criança foi separada dos irmãos, encontrando uma nova família no orfanato de Torlonia, liderado pelas Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo. Aos 21 anos, ela pediu para se tornar uma delas, mas foi aceita e remandada várias vezes, tanto que aos 32 anos ela ainda não encontrava seu caminho. Mas uma coisa é certa: a vida dela é para Deus! Por esse motivo, sua oração tornou-se mais intensa, até 17 de Dezembro de 1891, seu destino cruzou-se com o do Padre Camiliano Luis Tezza, que há muito tempo procurava pessoas dispostas a colaborar com ele no trabalho de restauração das terciárias camilianas, para assistência aos doentes. O encontro acontece no confessionário durante um curso de exercícios espirituais para mulheres de língua francesa, que o padre realizou nas Irmãs do Cenáculo. A jovem mostrou-lhe as dificuldades em realizar sua vocação e Tezza propõe fundar um Instituto religioso dedicado ao cuidado dos doentes, de acordo com o espírito de São Camilo de Léllis. Vannini reza, reflete, pede conselhos e depois responde com generosidade: assim, em 02 de Fevereiro de 1892, nascem as Filhas de São Camilo.
A primeira casa fica na Rua Merulana 141, mas após apenas dois meses o núcleo inicial mudou-se para a Rua Justi. A partir daqui, as irmãs com a cruz vermelha no hábito religioso começam a prestar seu serviço humilde e caridoso aos doentes que precisavam de cuidados, ficando perto deles dia e noite. Além de tratar os doentes, arrumavam a casa, cuidavam das crianças e preparavam refeições. No final do ano de fundação, de três religiosas haviam chegado ao numero de quatorze. Apesar das inevitáveis dificuldades dos primeiros passos, a comunidade logo se estendeu de Roma a Cremona (1893), Mesagne (1894), Grottaferrata (1896) e depois à França (1899), Bélgica (1901) e até a Argentina (1904). Hoje, as herdeiras espirituais da Madre Vannini atuam em 22 paises do mundo, com presenças também no Paraguai e Cuba.
No contexto dessa abertura para os subúrbios, a escolha da Fundadora para comprar terras em Torpignatara no início do século XX se torna ainda mais importante, ontem como hoje o distrito fronteiriço com uma forte dimensão multicultural, o que também significa multi - religioso. Embora Vannini não tenha visto a casa pronta, já que as irmãs se mudaram para lá um ano após sua morte, em 1912, ela foi a arquiteta da compra do terreno e da preparação do projeto, indo também pessoalmente ao local.
E se nos primeiros anos a assistência oferecida era do tipo domiciliar, a partir de 1917 foram as irmãs filhas de São Camilo que hospedaram os doentes em sua casa na Rua dos Carbonários, agora Rua Labico. Na época, era uma aldeia doentia no Agro Romano, onde as doenças infecciosas estavam se espalhando rapidamente, tanto que a abertura do primeiro ambulatório para tuberculosos em Roma Sanatório Ramazzini, a área habitada pelas pioneiras exigia uma dedicação cada vez maior dia após dia. Foi assim que, em 1931, elas decidiram abrir uma clínica gratuita para os pobres, que também prestava cuidados de saúde primária. Com o tempo, a estrutura tornou-se pensionato de idosos, depois uma clínica cirúrgica e, finalmente, um hospital que, após a Beatificação da fundadora em 1994, leva o seu nome: Hospital, Madre Josefina Vannini. Adjacente, há também uma escola para o curso de graduação em enfermagem, onde, além da ciência e da tecnologia, o espírito da caridade camiliana é transmitido aos estudantes. O processo da causa de canonização foi iniciado em Roma em 1955. Após a inscrição no registro dos Bem aventurados por João Paulo II, em vista da canonização. De 1 a 4 de Dezembro de 2015, foi instruído o inquérito diocesano, na cúria de Sinop no Brasil, por um suposto milagre a favor do trabalhador da construção civil Arno Celson Klauck, que estava trabalhando na construção de uma casa de repouso para idosos em homenagem a Vannini, construída com a ajuda de toda a comunidade civil e religiosa da cidade. O homem, perdendo o equilíbrio, caiu do terceiro andar dentro do poço do elevador, com um voo de cerca de 10,80 metros de altura. Dentro do poço, havia pedaços de madeira e ferro e, no fundo, também havia um acúmulo de água da chuva; no entanto, Arno saiu ileso. A consulta médica realizada em 27 de Setembro de 2018 definiu o caso: "A ausência de qualquer comprometimento significativo, tanto somático quanto psíquico, necessariamente esperado em um caso de precipitação a partir da altura de 10.80 mt apesar da presença de fatores de proteção, não encontra explicação científica".
A invocação do trabalhador ao cair, "minha mae, ajuda-me", nasce no contexto de uma profunda devoção a Bem-aventurada, cuja canonização iminente constitui um forte apelo à humanização do cuidado. Para ela, o paciente nunca é um número ou um peso, mas o destinatário de um serviço a ser realizado com discrição, gentileza, cuidado, sensibilidade, capacidade de levar o homem a Deus, de abri-lo à fé. Para Madre Vannini, o sofredor deve estar no centro de toda preocupação e interesse, e deve ser servido como o próprio Jesus: "Eu estava doente e cuidastes de mim" (Mt 25,36). Portanto, para os jovens e para os que buscam a vontade de Deus, Vannini é um modelo de abandono ao Senhor; enquanto para aqueles que vivem sem um ideal sério, é um estímulo à fortaleza e perseverança.
Por fim, como a canonização ocorrerá durante a celebração do Mês Missionário Extraordinário, encomendado pelo Papa Francisco, a Madre Vannini constitui um exemplo significativo de abertura à evangelização. Alguns anos após a fundação de seu Instituto, embora este ainda fosse pequeno e novato, em dificuldade e pobreza, ela pensou em enviar suas filhas ainda muito jovens para a Argentina. E o texto atual das Constituições corresponde a esta abertura: "A Igreja é missionária e a evangelização é dever de todo o povo de Deus. Nosso Instituto, fiel ao mandato do Senhor de cuidar dos doentes e pregar o Evangelho, assume a sua parte e está inserido com seu próprio carisma na variedade de atividades missionárias"».
Ir. Bernadete RossoniReligiosa das Filhas de São CamiloPostuladora da causa
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