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Cuidar do Cristo, que sofre na pessoa do doente

28.05.2018 | 4 minutos de leitura
São Camilo
Cuidar do Cristo, que sofre na pessoa do doente

Por Pe. Gilmar Antônio Aguiar, M. I.

Cuidar do Cristo que sofre na pessoa do doente é uma ação, intrinsecamente, ligada à compaixão, porque, quem se compadece aproxima, acolhe e cuida. “A compaixão leva à ação, a dar assistência, a gastar, a colocar a serviço dos outros o que se é e o que se tem; a renunciar a comodidades, a viver sem luxo, a desfazer-se do supérfluo, a simplificar o estilo de vida” (Pe. Júlio Munaro, in memorian, publicação na revista Camilianos do Brasil, set/dez 2006).


O cuidado para com o outro é uma expressão concreta de que o verbo amar, que não pode derivar-se em sentimento apenas, mas em atitudes e condutas que geram vida. Assim, é em Cristo que buscamos e encontramos o modelo e o sentido para o cuidado, pois, viveu em tudo o amor a Deus e ao próximo, numa atitude solidária que se faz serviço junto aos mais vulneráveis e empobrecidos, de modo especial, os doentes.


A doença e a enfermidade são realidades inerentes à condição humana. Todo ser humano já passou, está passando ou passará por uma experiência de doença. Isso revela que, em nossa condição de seres humano, não fugiremos da experiência da dor e do sofrimento. No entanto, a todo momento, buscamos dar um sentido aquilo que vivemos, seja na alegria, seja na tristeza. Em si, dor e sofrimento não têm sentido, mas podem ser meios para a busca do sentido da existência. Essa realidade nos aponta para aquilo que tem verdadeiro sentido: a vida. O existir traz a possibilidade da realização pessoal, da felicidade.


Desse modo, quando lemos e estudamos a vida e a obra dos santos e santas, observamos condutas invejáveis, atitudes plenas de sentido, a saber, profunda intimidade com Deus, oração contínua, amor pela Igreja, participação diária na Eucaristia, devoção a Nossa Senhora, leitura e meditação da Palavra de Deus. É, precisamente, no coração do Evangelho que encontramos os fundamentos para cuidar, pois Jesus disse: “todas as vezes que deixastes de fazer isso a um desses pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer” (Mt 25, 45).


O Cristo que sofre na pessoa humana precisa ser cuidado. Nos seus ensinamentos de vida, Camilo de Lellis ensinou seus confrades a cuidar dos doentes com amor de mãe. No fundo, transformou uma realidade de dor em fonte de compaixão e misericórdia. Além disso, fez nascer uma espiritualidade cristocêntrica, dando sentido à sua vida e à sua missão. Esse cristocentrismo é prático, fazendo o que Cristo fazia pelos doentes: acolher, curar, libertar e cuidar com afeto e carinho materno.


A vida de Camilo de Lellis era orientada e alicerçada na Sagrada Escritura. Destacamos, aqui, o primeiro fundamento da espiritualidade camiliana brotada do coração do Evangelho: “Estive enfermo e me visitaste” (Mt 25, 36). Ora, Camilo foi alvo da compaixão divina, tornando-se, assim, um instrumento de misericórdia para o seu próximo. A sua ação humanizadora mostrou-se, sobretudo, no serviço ao Cristo crucificado nos doentes, nos pobres, nos sofredores e nos necessitados, pois eles “são os nossos senhores e patrões” e neles vemos e servimos ao próprio Cristo. 


A humanidade de Cristo é o centro para compreendermos o sentido do cuidado. Dita humanidade é tocada, amada e servida na humanidade sofredora dos doentes, que são concebidos como “os membros sofredores de Jesus Cristo”, constituídos em dignidade real, que ele, Camilo, e os seus seguidores servem com amor e fidelidade ao mandato de Cristo.


Camilo de Lellis antecipou os tempos, fez a diferença, ou seja, realizou uma ação humanizada no mundo da saúde, resgatando a essência da espiritualidade evangélica que diz respeito ao cuidado dos doentes, como fez o bom samaritano. Esta passagem é o segundo fundamento bíblico, de grande relevância da espiritualidade camiliana (cf. Lc 10, 25-37).


Em suma, cuidar de Cristo na pessoa do doente é ser um outro Cristo para a pessoa que sofre. É ser a presença de Cristo nos doentes e naqueles que os assistem em Seu nome, tendo uma vida centrada no encontro pessoal com Jesus, que nos ensina a viver nossa vocação na escuta à Palavra de Deus; e a vivência comunitária sob a assistência do Espírito Santo. A identificação com Cristo e sua missão torna-nos criativos e responsáveis. Assim, não precisamos de alguém que nos mande fazer o bem ou praticar a caridade: basta-nos olhar o exemplo de Cristo, quando contou a parábola do bom samaritano (cf. Lc 10, 25-37). O samaritano se deixa interpelar pela necessidade do outro, por isso, cuida e salva.

 

 

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