O chamado a ser presença de Deus para os doentes

Por Pe. Geovani Antonio Dias, m.i.
Vigário na Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Pompeia, São Paulo –SP
A vocação camiliana é o chamado a ser presença de Deus para os doentes. Esse chamado é uma convocação do próprio Deus, que precisa do vocacionado para levar a saúde de corpo e de alma aos sofredores. O primeiro vocacionado nesta escola da caridade foi o próprio fundador dos Ministros dos Enfermos, São Camilo de Lellis. Impelido pelo Espírito Santo, Camilo sentiu no coração, após uma vida de vícios, o desejo de reparar seus pecados servindo aos pobres e doentes de seu tempo. Ele, qual bom samaritano do Evangelho, viu que os doentes eram cuidados com descaso e sem amor por mercenários que esperavam apenas retribuição financeira e não a saúde e a vida plena daqueles doentes. Diante de tal situação, encontrou-se com a voz de Deus que gritava no sofrimento daqueles doentes. O chamado de Deus gritava escondido no sofrimento e Camilo só o ouviu porque abriu seu coração à uma vida nova no Espírito Santo.
Ainda hoje, essa mesma voz continua ressoando nos esconderijos mais secretos do coração humano. O chamado é uma descoberta encantadora que atinge os ouvidos e vai à interioridade, transformando o coração. O evangelista Mateus, ao narrar o chamado de Simão Pedro e André, afirma que, primeiro é Jesus quem os vê lançando redes, pois eram pescadores. Após vê-los, Jesus se aproxima deles e diz: “Segui-me e eu farei de vós pescadores de homens. Eles, deixando imediatamente as redes, o seguiram” (Mt 4, 19-20). Na história do chamado, há sempre uma primeira iniciativa de Deus. Como diz São João: “Não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele quem nos amou” (I Jo 4,10). Deus enxerga nossa humanidade e importa-se com ela, mesmo insuficiente e limitada. Jesus viu Simão e André, viu Camilo de Léllis e nos vê, pois seu olhar não se cansa de dirigir-se à nossa humanidade.
Jesus vê Simão e André em sua realidade concreta, lançando redes e, de dentro desta realidade, chama-os a estar com Ele e realizarem uma missão salvadora. Eram pescadores, mas a partir daquele momento estavam sendo chamados para pescar diferente, pescar homens para Deus. O convite de Jesus passou pelos seus ouvidos, mas atingiu-lhes o profundo do coração, porque, imediatamente, sem pensar em consequência nenhuma e sem medir esforços, deixam as redes velhas de pescadores e vão em busca de novas redes. Continuaram pescadores, mas de gente, por isso precisarão de nova rede, precisarão do próprio Jesus. O instrumento da missão é o próprio autor do chamado. Jesus quer discípulos, não servidores cegos; quer curadores e libertadores do mal; não funcionários com carga horária estabelecida. Empregados eles já eram, agora Jesus queria amigos e companheiros que partilhassem de sua missão salvadora.
É exatamente isso que aconteceu também na vida de São Camilo. Jesus o encontrou em meio aos vícios e à doença. Após sua conversão, Camilo fez o propósito de se tornar Franciscano, mas foi demitido por ter uma ferida na perna que não se curava. Essa ferida o levou para o hospital São Tiago dos Incuráveis, em Roma. Lá, sendo cuidado, começou a enxergar as necessidades espirituais e físicas dos outros doentes. Um doente, chamado por Jesus para salvar os outros doentes e sofredores. Deus usou do instrumento limitado e fraco, que era Camilo, para cuidar, redimir e salvar os doentes. Notamos aqui que é no mais profundo da nossa condição humana que está o querer de Deus para nossas vidas. Pescador e doente são realidades concretas que Deus usa para nos chamar. Nosso chamado pode estar mais perto do que pensamos, basta adentrar nos sinais e mergulhar na oração interior para descobrirmos onde Deus está nos chamando.
Camilo, aos poucos, foi discernindo que Deus o queria no hospital cuidando dos doentes como uma mãe cuida de seu único filho que adoece. No entanto, no hospital encontrou muitas barreiras, incompreensões dos funcionários, falta de recursos e, até mesmo, falta de homens que sentissem o mesmo impulso do Espírito Santo que ele sentia. Essas barreiras só foram vencidas porque o chamado de Deus era muito forte em sua alma. Aquela voz ressoava tão poderosamente em seu interior que não havia outro caminho a não ser o de seguir adiante. Não há dúvidas de que a obra de Camilo não é dele. Prova disso é a experiência mística que ele tem com Jesus crucificado. Numa noite, vivendo a incompreensão e os desafios de fundar a Ordem dos Ministros dos Enfermos, enquanto orava, sentiu que o crucificado despregava os braços da cruz e lhe encorajava a seguir adiante. Disse o crucificado a ele: “essa obra é minha, não tua”. A partir daquele dia, Camilo nunca pensou em voltar atrás, olhando para a frente, insistiu, com ousadia, em defender o carisma da misericórdia para com os doentes até morrer.
Jesus, ainda hoje, conta conosco. Muitos doentes sofrem e morrem sem alguém para cuidar de suas feridas, sem um sacerdote para trazer-lhes os sacramentos, sem alguém que console sua alma com preces, enquanto aflito beira a morte. Nosso tempo, cada vez mais técnico, tira o doente da casa e o coloca em uma fria UTI ou em um leito de hospital. Deus certamente tem um desejo ardente de esquentar as frias UTIs, mas faltam homens que escutem esse querer de Deus. Temos até pessoas que querem lucrar nas UTIs, mas para ser presença de Deus são poucos. Como poderemos ouvir a voz de Deus hoje, em meio a tantos aparelhos técnicos? Ousaria dizer que só quem tem a coragem de transpor os sons da técnica, do lucro em todos os sentidos e encontrar a dor, encontrará o grito mais profundo do ser humano, o grito de socorro por Deus. Quem encontra esse grito nunca poderá deixar de levar Deus ao sofredor, o verdadeiro socorro, o único remédio que pode sanar de verdade, que pode salvar.
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