O tempo e as lições da pandemia – Uma oração de reflexão

Ó Senhor, somos observadores e espectadores de eventos e mudanças jamais imaginadas. Um minúsculo vírus chamado covid-19, como o jovem Davi que demoliu a arrogância de Golias, caçoou de nossas falsas ilusões, esmigalhou os castelos de nosso aparente controle.

Este mestre implacável e severo freou nossa louca corrida e mostrou o cartão vermelho, tirou-nos a carteira de dirigir, expropriando-nos do direito de socializar.

Apagados em um mundo redimensionado, de nossas janelas ruminamos pensamentos sobre o significado do tempo, mosaico onde escrevemos a nossa história, agora habitado por agendas suspensas e liberdades condicionadas. O covid-19 nos fez passar:

do tempo do frenesi ao tempo da quietude;

            do tempo dos contatos ao tempo das distâncias;  

 do tempo do prazer ao tempo do  sacrifício; 

            do tempo do esbanjamento ao tempo da poupança;

            do tempo das comodidades ao tempo do essencial;

         do tempo dos projetos ao tempo dos imprevistos.

                                                                     

                                                             A passagem do corona vírus convulsionou a escala de nossos rituais ensinando-nos a viver um período transformador:                                                                                     

tirou-nos o tempo das certezas para formar-nos para a provisoriedade; 

   tirou-nos o tempo da autossuficiência para abrir-nos à fraternidade;

tirou-nos o tempo da ação para educar-nos para o repouso.

Ó Senhor, ajudai-nos a recordar-nos que o tempo é um dom, não um direito; uma oportunidade, não uma prisão; uma arena de encontros e desencontros; um aproximar-se 

de metas alcançadas e de oportunidades perdidas.

Agradecemo-vos por todos os tempos recebidos, mesclados de sorrisos e lágrimas, ocasiões em que nos sentimos astros e desastrados, experiências de fertilidade e 

de esterilidade, galerias que guardaram amores e separações.

Fortificai o nosso espírito para enfrentar as diferenças de hoje, para ter paciência com quem nos irrita ou aborrece, para treinar para a resistência e a positividade.

Quando o tempo não será mais uma certeza e chegará a hora do ocaso, fazei que encetemos a última viagem, do tempo para a eternidade, confiando-nos a vós, com todos os tempos vividos em vossa criação.

Amém.

Pe. Arnaldo Pangrazzi, M.I.