O real sentido do exercício do poder
30.05.2022 | 5 minutos de leitura
Província

O grande acúmulo de poder alcançado pelo homem do nosso tempo, com o risco de ser usado como instrumento de desumanização ou mesmo colocar em risco a sobrevivência de toda a humanidade, faz com que o uso do poder seja um dos principais temas da atualidade. A sociedade técnico-científica criou estruturas de poder para serem instrumentos de domínio sobre a natureza e sobre o próprio ser humano e aperfeiçoar sempre mais a sua forma de vida. Todavia, essas estruturas ganharam tal força que o ser humano não consegue mais controlá-las, ele se encontra dominado a tal ponto que a humanidade foi expropriada da sua potência diante de um processo que ela mesma encaminhou.
Nesse contexto, é muito importante considerar a exigência de se delimitar os fins, prioridades e limites do poder, uma vez que também essa realidade humana é marcada pela ambiguidade e pode tanto construir como destruir, libertar ou escravizar, desenvolver ou fazer regredir o ser humano, individual e socialmente. O poder é uma realidade própria das relações humanas coextensivo ao fenômeno social, que permite a concretização das possibilidades humanas e a realização daquilo que é projetado a nível pessoal e social. Porém nunca é uma realidade neutra e independente da liberdade e da vontade humanas.
Como elemento fundamental das relações humanas ele deve ser direcionado, posto a serviço do bem do ser humano e da humanidade e não deixar que floresçam os seus aspectos opressivos, que acabam por dominar e alienar as pessoas. Os resultados de um poder arbitrário são sempre os mesmos e conhecidos por todos, a saber: opressão, perseguição, violência, tortura, exílio, extermínio e totalitarismo arbitrário sem recurso a apelação ou à força da argumentação.
Quando esse desvirtuamento acontece em campo político, por exemplo, se observa que o poder se torna um ídolo em cujo altar as pessoas humanas, famílias, direitos humanos, a liberdade e o bem comum de nações inteiras são sacrificados sem escrúpulos. Além da violência e das lesões dos direitos humanos, no cortejo do absolutismo do poder costuma seguir a corrupção em grande escala, que faz muitas vítimas entre os pequenos e enriquece apenas os próprios potentados e seus amigos de ocasião.
Como o poder não é neutro e pode converter-se em instrumento de violação dos direitos dos outros, a justiça é um critério fundamental que deve determinar a sua finalização e os meios do seu exercício. Isso requer o empenho ético da parte de todos a fim de maximizar os efeitos criativos do exercício do poder e minimizar os seus aspectos negativos e opressivos. A primeira via para que isso aconteça é a passagem de uma cultura do poder ao poder da cultura, decorrente da superação da vontade de domínio sobre os outros e da compreensão do poder a serviço de um valor que o transcende e não como um fim em si mesmo. As escolhas que devem regular o poder devem ser pautadas por uma ética capaz de colocar ao centro o primado do humano e do social, a quem deve servir.
A segunda via é a passagem de um modelo de obediência ao modelo da liberdade, pois um dos lugares em que o poder revela seu rosto opressivo é justamente na pretensão de uma obediência e submissão incondicionadas, infantil e servil à lei e aos homens. O objetivo da formação moral nesse sentido é conseguir pessoas livres, capazes de interrogar a própria consciência a respeito do sentido das normas, da ordem e dos poderes constituídos, discernindo assim quando é um dever obedecer e quando é um dever legítimo questionar essas realidades.
Afinal, o grande poder de Deus é dar origem e deixar que as coisas sejam em sua autonomia, sem que resultem subjugadas e usadas por ele como pretende algumas tendências ideológicas propagadoras de um “deus acima de tudo e de todos. Embora todas as coisas estejam relacionadas a Ele, como sua fonte original e seu fim último, isso não significa relação de arbitrariedade. Nesse sentido, a proposta de Jesus não é a substituição direta do poder nem a sua tomada por seus seguidores, mas a mudança de mentalidade e de configuração da humanidade e de suas opções, visando a superação da violência fruto da subversão do poder/autoridade, quando este revela seu caráter destrutivo. Jesus, por meio do processo redentor abre a possibilidade de uma profunda reconciliação do ser humano consigo mesmo e com toda a realidade, harmonizando assim as relações humanas e fazendo com que elas sejam menos caóticas e polarizadas.
Somente a compreensão e o exercício do poder como serviço (Cf. Mt 20,20-28), é capaz de impedir a sua absolutização, que impede que ele seja usado para a criação de condições sociais, políticas, econômicas e culturais que permitam a humanização e o desenvolvimento de toda e de cada pessoa humana. O poder como elemento constitutivo dos relacionamentos deve ser mantido na sua condição de instrumento e meio para o bem das pessoas e do mundo em que vivemos e não o contrário. Só esse equilíbrio garante que não se caia no extremo das injustiças e arbitrariedades de um poder absolutizado a serviço de ideologias e de grupos.
Pe. Junior Moreira, M.I
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